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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Atividade Paranormal 3 (2011)



Antes de tudo, quero deixar uma coisa bem clara: se você não gosta do subgênero “found footage”, então por que se dá ao trabalho de ir a um filme dele? O antagonismo de opiniões acerca desses filmes já vem desde que “A Bruxa de Blair” aterrissou nos cinemas e criou esta tendência: para alguns, se o filme era uma revolução no campo do terror, para outros ele não passou de uma bagunça visual e de uma regressão no cinema. Tenho a impressão que estas críticas, contudo, não são graças às falhas dos filmes, mas às características do próprio gênero. Acontece que, se você não suporta as peculiaridades técnicas dos “found footage films”, não tem como gostar de seus filmes; não há nem motivo para você ir vê-los. O “found footage” não é um estilo universal: se você não gosta dele, não gostará de nenhum de seus filmes. Se gosta, então poderá analisar os filmes pelas suas próprias características, não pelas do gênero.

Feitas as observações, vamos ao dito-cujo: “Atividade Paranormal 3”, herdeiro da franquia de horror mais singular e lucrativa dos últimos dez anos, não trás a mesma inovação do primeiro filme nem os sustos do segundo, mas apresenta novas jogadas que finalmente marcam um gol de placa para a série. Esta terceira incursão da franquia nos mistérios que assolam as famílias de Katie (protagonista do primeiro filme) e Kristi (do segundo) se propõe, antes de tudo, a uma tarefa sempre arriscada: juntar os nós dos filmes anteriores e concluir a saga. Esse é o seu maior triunfo e, estranhamente, a sua maior falha.

Se o filme anterior dava um passo atrás no tempo e mostrava o que acontecia com a família de Kristi, irmã da pobre vítima no primeiro filme, este filme regressa ainda mais e explica como toda a maldição começou: desta vez, Katie e Kristi, ainda crianças, é que terão contato com o Coisa-Ruim. A introdução do filme, que mostra como foram recuperadas as fitas desses eventos tão longínquos, já marca um ótimo ponto a favor do filme: ela é simples, eficaz e, de certa forma, apavorante. Ela esclarece um determinado evento de “Atividade Paranormal 2”, explica por que todo o mistério do filme estava centrado no porão da casa e, de quebra, aumenta a aura de perigo do demônio que sempre assola os protagonistas: mostra como a criatura faz parte de um mistério ainda maior.

É peculiar notar o como o fenômeno de “seqüências” funciona na série “Atividade Paranormal”: mesmo que todos os filmes conservem a fórmula de “filmagens reais”, cada qual parece inteiramente diferente do outro. Todos possuem novos personagens, novos ambientes e sabem muito bem expandir a história introduzida pelo primeiro filme. “Atividade Paranormal 3”acaba como o mais diferenciado da série, apelando para história em detrimento dos sustos. É claro, o filme é terrivelmente apavorante, mas possui um quê de comprometimento ainda maior com a solução de todo o mistério. Diferente do segundo, que é uma salada variada dos mais apavorantes e eficientes sustos da história do cinema, este terceiro incrementa a tensão, que nem sempre levará ao susto que estamos esperando tomar. Mas, ao contrário do primeiro filme, que caiu fácil na armadilha de “jogar balde-frio” no espectador, este terceiro sabe calibrar ambos os elementos e concluir a história com eficiência.



Sim, os sustos estão menos abundantes, mas a forma com que eles são executados está mais madura. Deixando de lado as sombras misteriosas ou os barulhos demoníacos (eles ainda estão lá, mas em muito menor destaque), o filme constrói novos truques, entre os quais estão uma cena envolvendo um lençol e a personificação do demônio na figura de Toby, o amigo não-tão-imaginário-assim de Kristi. Esta última é, de longe, a mais apavorante idéia dos produtores da franquia: o fato do demônio ser tratado não mais como uma força desconhecida, mas como um sinistro parceiro de uma das protagonistas, acrescentou um novo nível de adrenalina à série. Mas se ele foi eficiente em alguns pontos, outras possíveis fontes de ótimos sustos foram subaproveitadas: a câmera “rotativa”, uma novidade na série, não serviu para muita coisa nem acrescentou nada em relação às similares “estáticas”.

O ponto alto, como disse, é o desenvolvimento da história, que finalmente amarrou, com razoável sucesso, os nós soltos dos filmes anteriores. Os quinze minutos finais desta obra, alardeadas pela mídia estrangeira como “momentos que irão perturbar sua vida”, são muito mais do que apenas incrivelmente tensos e assustadores; são – até que enfim! – a revelação de todo o mistério e a descoberta de que o Coisa-Ruim não passava de uma peça menor no tabuleiro (isso mesmo). Essa espécie de “confronto final”, que costuma arruinar muitas obras de terror, foi bem executada o suficiente para soar natural e plausível. Ela é, sim, muito clichê, e não é nenhuma grande surpresa para os que acompanhavam atentamente os eventos anteriores, mas termina sendo satisfatoriamente esclarecedora e, de certo modo, profundamente angustiante. Oren Peli, o agora milionário criador e produtor da franquia, soube dar um ar de vida-própria à franquia; sua história e seu desenvolvimento são competentes o suficiente para torná-la algo mais do que apenas uma exploração comercial sobre o sucesso do primeiro filme.

O ponto baixo fica, como eu também disse, para o desfecho da obra. Sim, é estranho, mas a conclusão do filme funciona tanto como uma bênção quanto uma maldição. Querendo ou não, a explicação fornecida pelo desfecho do filme acaba diminuindo a ameaça do demônio e transferindo-a para uma personagem pouco desenvolvida e inédita na trama. Outra coisa inevitável é que desvendar um mistério, por mais correta que seja a execução, é algo “broxante”: retira da história o fator “desconhecido”, que é justamente a que mais nos mete medo. Ao expor tudo a pratos limpos, o filme se conclui num misto de choque e desapontamento. Isso é bom, por algum tempo, pois nos força a pensar profundamente sobre o significado do desfecho e, invariavelmente, a repensar todos os eventos da trilogia, mas, logo depois, sentimos como se tivessem puxado o tapete sob nossos pés.



O desfecho é bem feito, sim, mas não é perfeito. Quem mais sai prejudicado em toda a história é o primeiro “Atividade Paranormal”, pois alguns mistérios-chave nele expostos não são explicados: que história era aquela de “incêndio” na casa das irmãs? Como elas se comportam de maneira tão desavisada, já que, neste desfecho, tudo indica que elas serão membros diretos do círculo demoníaco? E mais: não confiem nos trailers da produção. É comum que se produzam materiais para serem usados apenas nos trailer, mas o que fizeram aqui é uma piada: inúmeras cenas aparentemente importantíssimas que estão nos trailer não aparecem no filme! Desde as suas irmãs recitando o “Bloody Mary” até o famigerado incêndio, quase todas as cenas dos trailers não aparecem no filme – ou, se aparecem, são de forma muito diferente do prometido. Há uma regra de ouro no mundo dos negócios: se prometeu, tem que cumprir. Se está no trailer, tem que estar no filme. Todo o resto é propaganda enganosa.

Enfim, o que é “Atividade Paranormal 3”? É um dos terrores mais eficientes do cinema, se você tiver afinidade com o gênero “found footage”. De fato, o filme dura menos do que deveria e sua conclusão, apesar de impactante, parece muito brusca, deixando a platéia com o incômodo sentimento de “Ué, já acabou?!” Também trás menos sustos, o que será uma decepção para quem se apavorou com o segundo filme, mas, em compensação, sabe unir muito bem os nós de uma história clichê, mas fascinante, e construir um nível de tensão que ultrapassa os limites do humanamente suportável. Não tem como você assistir ao filme sem tapar os olhos pelo menos uma vez na sessão, tão grande é o medo. No geral, “Atividade Paranormal” se encerra como uma franquia super-eficiente no que se propõe, podendo deixar os cinemas com a sensação de dever cumprido.

P.S.: é muito improvável que, com todo o sucesso que este terceiro filme terá, a franquia realmente se encerre aqui. Qualquer continuação, entretanto, será extremamente desnecessária: ou os produtores inventam algo realmente novo ou cairão na desgraça de macular, com a ganância, uma obra muito bem resolvida.

NOTA: 7,0

3 comentários:

  1. Estava meio em dúvida em relação ao filme, porém pelo jeito a obra valhe a pena uma conferida. Bom texto, como sempre.

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  2. Eu também acredito que o des-interesse de muitas pessoas neste gênero de filme é uma questão de identificação mesmo. E fico pensando se este tipo de "horror" não as/nos remete à nossos próprios horrores. ^^

    Um abraço!
    www.cinefreud.com

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  3. Só assisti o primeiro filme da saga e achei bom. Espero que esse também seja.

    http://www.cinemosaico.com

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